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Projeto RECEB intervém na Reforma do Ensino na Guiné-Bissau | Investigador Francisco Mendes faz parte da equipa científica do projeto
2015-2025
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Por toda a Guiné-Bissau, as salas de aula do 1.º ciclo enchem-se de novos manuais escolares para as crianças e de guias e materiais digitais para os professores. Ao fim de dez anos de trabalho, fala-se numa “revolução do ensino”, que trouxe inovação e currículos comuns às escolas daquele país africano. A mudança deve-se ao projeto RECEB com suporte científico da Universidade do Minho.
A iniciativa arrancou em 2015 com a elaboração do documento orientador da Reforma e dos programas das cinco disciplinas do 1.º ao 4.º anos de escolaridade, e, posteriormente, dos manuais para os alunos e dos guias para os professores. Seguiram-se diversas ações de formação e a experimentação faseada do novo currículo, que foi monitorizada no terreno e conduziu à revisão de alguns materiais antes da sua generalização a todo o país. O sistema educativo guineense usava até aí materiais que mal tinham sido atualizados desde a independência, pelo que foi preciso desenvolver um plano de ação inclusivo, a pensar em todas as crianças guineenses, independentemente da sua condição, e visando a melhoria contínua e interativa do processo educativo.
A demora na finalização desta fase do projeto deveu-se às suas várias etapas, pois foi necessário conhecer o país, consultar programas locais, regionais, nacionais e de países vizinhos, além de considerar e adaptar as especificidades da realidade na produção de materiais didáticos. Por exemplo, na disciplina de Estudo do Meio Físico e Social, importava integrar a riqueza ambiental, geográfica, histórica, social e económica da Guiné-Bissau. No caso de Educação para a Cidadania, importava preparar o/a estudante enquanto ser social e abordar temas como os direitos da criança e os direitos humanos, os valores positivos e a paz.
No presente ano letivo, o novo currículo foi alargado a todas as escolas públicas no país, tendo cerca de seis mil professores recebido tablets com todos os materiais produzidos, incluindo em suporte de áudio, organizados numa aplicação offline, para usarem nas suas aulas.
O Projeto continua no pré-escolar, na educação acelerada e no 2º ciclo.
O RECEB é protocolado desde a primeira hora com a Reitoria da UMinho. A equipa científica é coordenada pela professora Laurinda Leite e inclui cerca de 40 docentes do Instituto de Educação, da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas, da Escola de Ciências e do Instituto de Ciências Sociais.
O projeto foi cedo alargado ao 2.º ciclo do ensino básico, tendo sido elaborados, antes da pandemia, os programas e os conteúdos para os manuais e guias para as oito disciplinas que compõem o respetivo plano de estudos. Contudo, limitações orçamentais fizeram com que só agora fosse possível pensar em retomar o processo.
Mais recentemente, foram elaborados materiais para a educação pré-escolar (5 anos) e para a educação acelerada (uma inovação no país, destinada a quem não fez o 1.º e 2.º ciclo obrigatório na idade normal), que estão presentemente a ser testados em algumas pré-escolas e escolas guineenses de diversas regiões do país. Em paralelo, têm decorrido cursos de formação para educadores de infância e para professores daqueles ciclos e, também, para educadores de infância, pois o projeto envolve novas metodologias e novos conteúdos que constituem um desafio para quem os via lecionar.
Na Guiné-Bissau, 45% da população adulta é analfabeta. Tal como a Fundação Calouste Gulbenkian e a Universidade do Minho, o Governo da Guiné-Bissau acredita que, com o RECEB, “o futuro do país vai melhorar” porque “investir em educação é investir em todos os setores da sociedade”.
O Investigador e Professor do Departamento de História, Francisco Mendes, faz parte da equipa científica do projeto RECEB – Reforma Curricular do Ensino Básico da Guiné-Bissau que é liderado pelo Ministério da Educação, através do Instituto Nacional para o Desenvolvimento da Educação da Guiné-Bissau, contando ainda com o apoio do Banco Mundial, da UNICEF e da Fundação Calouste Gulbenkian, parceira da UMinho.